A Igreja adora a Cruz porque nela vê Cristo e o seu amor por nós. Quando se separa a cruz do próprio Cristo torna-se difícil olhar para ela sem pensar que se trata apenas de mais um instrumento de tortura e morte, sem qualquer atrativo. E com razão.

Com vistas à preparação de JMJ 2023, retomamos algumas reflexões do Papa Francisco da Exortação apostólica Cristo vive!, dirigida sobretudo aos jovens. Nela lemos: «Nos jovens, encontramos também, gravados na alma, os golpes recebidos, os fracassos, as recordações tristes. Muitas vezes “são as feridas das derrotas da sua própria história, dos desejos frustrados, das discriminações e injustiças sofridas, de não se ter sentido amado ou reconhecido”.

Além disso, temos “as feridas morais, o peso dos próprios erros, o sentido de culpa por ter errado.” Jesus faz-Se presente nestas cruzes dos jovens, para lhes oferecer a sua amizade, o seu alívio, a sua companhia sanadora, e a Igreja quer ser instrumento d’Ele neste percurso rumo à cura interior e à paz do coração» (n.º83).

À luz destas palavras do Papa, entendemos melhor a festa da Exaltação da Santa Cruz, no dia 14 de setembro. Ela enche-nos de agradecimento pelo amor de Deus por nós. Na liturgia da festa, recordamos que o próprio Cristo, na conversa noturna com Nicodemos, evoca a sua futura crucifixão invocando o episódio da serpente de bronze nos tempos de Moisés: esse objeto tinha sido mandado fazer por Deus para curar os israelitas mordidos por serpentes venenosas. A Cruz, da qual a serpente de bronze é uma imagem, tem um poder curativo dos muitos males que afligem os jovens e toda a humanidade. Como? Com Jesus. Jesus, com o seu amor, ajuda a descobrir o sentido de cada sofrimento, e muitas vezes alivia-o ou faz com que desapareça. Na festa da Santa Cruz não se trata de propor a cruz pela cruz, mas sim de recordar que  através dela conseguimos perceber melhor o amor de Cristo e o seu desejo de nos curar.

Uma das missões da Igreja é, pois, tornar Cristo próximo de cada jovem, por muito difícil e dolorosa que possa ser a sua situação, com ou sem culpa. Cristo tem «soluções» para tudo, porque o amor de Deus é sempre curativo. No percurso até à JMJ de Lisboa, convido todos os que passam por esta paróquia a estar atentos aos jovens que padecem sofrimentos, muitos deles ocultos. E convido a que lhes transmitam a esperança que brota da Cruz de Cristo. Um cristão coerente e atento pode ser para os que sofrem o Cristo que se torna presente nessas dores.

Pe. João Paulo Pimentel