Do Pároco

Com frequência, ouve-se falar da pobreza oculta ou envergonhada. Poderíamos acrescentar que também há doenças, dores e solidões ocultas ou envergonhadas. Muitas.

Cada ano, o dia mundial do doente convida-nos a querer prestar mais atenção ao enigmático mundo do sofrimento. Se não pararmos, se não estivermos com as pessoas, esses sofrimentos passarão ao nosso lado sem existirem, sem sequer conseguirmos imaginar que possam existir. Há muita gente que consegue «fintar» tudo o que é dor alheia: não param, não falam, não olham, não se interessam; refugiam-se no que não transmite problemas.

Para quem sofre, a dor torna-se ainda mais aguda quando a pessoa afetada julga (muitas vezes com razão) que ninguém parece aperceber-se dela. Viver o sofrimento na solidão é particularmente doloroso. Até porque, pouco a pouco, vai aumentando a convicção de que não existe para ela um lugar adequado e que o seu papel neste mundo é irrelevante ou indiferente.

Para combater o isolamento doloroso, gostaria de propor duas ideias. A primeira pode ser lida na mensagem do Papa Francisco: quem sofre deve manifestar a sua dor e todos nós podemos pensar em como ocupar-nos de quem assim sofre. Escreve o Papa:

«A vós que vos encontrais na doença, passageira ou crónica, quero dizer-vos: Não tenhais vergonha do vosso desejo de proximidade e ternura. Não o escondais e nunca penseis que sois um peso para os outros. A condição dos doentes convida-nos a todos a abrandar os ritmos exasperados em que estamos imersos e a reentrar em nós mesmos.

Nesta mudança de época que vivemos, especialmente nós, cristãos, somos chamados a adotar o olhar compassivo de Jesus. Cuidemos de quem sofre e está sozinho, porventura marginalizado e descartado. Com o amor mútuo que Cristo Senhor nos oferece na oração, especialmente na Eucaristia, tratemos das feridas da solidão e do isolamento. E, deste modo, cooperamos para contrastar a cultura do individualismo, da indiferença, do descarte e para fazer crescer a cultura da ternura e da compaixão».

Em segundo lugar, seria necessário que quem está ferido nunca esqueça que Deus conta com ele e que todos têm uma missão nesta
terra. Todos! Por isso, convido a que cada pessoa que sofre pense: se eu lidar com a minha dor, poderei ajudar muitos outros a lidarem com dores parecidas. Conheço quem padeceu depressão, anorexia, tratamento oncológico, assistência a filhos com doenças profundas, etc. e soube transformar essas dificuldades grandes num serviço de esperança para outros em situações semelhantes.

Quem muito padece encontra-se muitas vezes mais apto que a grande maioria a compreender a dor alheia, a adotar o olhar compassivo de Jesus. E, por conseguinte, está em condições de trazer a este mundo uma maior compaixão.

Queridíssimos irmãos que sofreis: a Igreja pede que não vos isoleis, não só porque não vos faz bem, mas porque necessitamos de cada um, do vosso testemunho. Deus apoia-Se em nós, mesmo quando padecemos. Devolvamos a todos a consciência de missão.

Pe. João Paulo Pimentel