Do Pároco

No início da Assembleia sinodal do passado mês de outubro, o Papa Francisco dirigiu-se aos participantes com estas palavras: “O Espírito Santo é o compositor harmonioso da história da salvação. Harmonia – atenção! – não significa “síntese”, mas “vínculo de comunhão entre partes desiguais”.

Se neste Sínodo chegarmos a uma declaração de que todos são iguais, todos iguais, sem nuances, o Espírito não estaria aqui. Ficou fora. Ele cria aquela harmonia que não é síntese, mas um vínculo de comunhão entre partes dissemelhantes. A Igreja, uma harmonia única de vozes, com muitas vozes, realizada pelo Espírito Santo: assim devemos conceber a Igreja. Cada comunidade cristã, cada pessoa tem a sua peculiaridade, mas estas particularidades hão-de ser inseridas na sinfonia da Igreja… E a justa sinfonia é feita pelo Espírito: nós não podemos fazê-la”.

Numa sinfonia, os instrumentos musicais e o tom das vozes podem ser diferentes. Essa diferença enriquece a melodia se tudo estiver harmonizado, coordenado, integrado no todo.

No entanto, esta harmonia pode quebrar pelos dois extremos: quando se tenta forçar o igualitarismo a qualquer preço ou, pelo contrário, quando se entende a diferença como uma nota solta, individualista, desligada da sinfonia. No primeiro caso, pretende-se que os outros sejam como nós (que seríamos o perfeito modelo); no segundo, que a sinfonia seja como nós a concebemos. O «eu» está sempre hipertrofiado. O que vem de fora – os outros ou a sinfonia – está mal. A docilidade ao Espírito Santo conduz a procurar a tal harmonia que reconhece com clareza que os dois extremos são perniciosos e contrários à vontade de Cristo que cultiva, na sua Igreja, a riqueza das diferenças compatível com a harmonia do conjunto.

É o Espírito Santo que inspira novos dons e é o mesmo Espírito que empurra aqueles que receberam esses dons a se integrarem no Todo do Corpo Místico: um Corpo com vários membros. No mês de janeiro, a Igreja convida a rezar pela unidade dos cristãos. Rezemos com sinceridade de coração por esta intenção, pedindo humildemente ao Espírito Santo que, por um lado, nos ajude a identificar em nós qualquer eventual veneno tanto contra a diversidade de dons como contra a unidade entre todos.

Seria péssimo, por exemplo, ver com maus olhos ou falar mal de realidades eclesiais diferentes das que conhecemos bem, sem sequer admitir que o Espírito Santo as possa ter inspirado. Há diferenças saudáveis e enriquecedoras para toda a Igreja. Por outro lado, minaríamos a unidade se perdêssemos de vista a realidade da Igreja Universal e nos esquecêssemos de que «há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo» (Ef 4,4). Neste sentido, derivas doutrinais, irresponsáveis e desobedientes criatividades litúrgicas, gestos ou palavras de desunião ao Papa, não são, garantidamente, obra do Espírito Santo. Rezemos, pois, pela unidade da Igreja.

Pe. João Paulo Pimentel