Do Pároco

Não é fácil penetrar no Mistério da Ressurreição de Cristo. Às vezes, mais do que uma explicação, ajudam-nos as imagens. O próprio Cristo recorreu ao episódio de Jonas que sobrevive no ventre do cetáceo para ilustrar a sua Ressurreição. A Tradição evocou o episódio de Daniel no fosso dos leões para ilustrar a vitória sobre uma morte anunciada. Gostaria ainda de sugerir dois exemplos que nos abrem pistas para penetrar um pouco mais neste Mistério de Jesus.

O Cardeal Ratzinger, numa das suas obras, sugere que a Ressurreição de Cristo é como o Xeque-mate no jogo de xadrez. A morte foi derrotada. Ao ressuscitar, Cristo venceu todos os inimigos, mesmo a morte como explica com entusiasmo S. Paulo (2 Tim, 1, 10) quando se refere à “graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes de todos os séculos, e que agora foi manifestada pela aparição de Nosso Salvador Jesus Cristo, que destruiu a morte e fez brilhar a vida imortal, por meio do Evangelho”. O lado do Inimigo pode movimentar-se e fazer mal, muito mal até, aos filhos do Rei. Mas o lado ganhador está decidido.

Num famoso filme de ficção, uma espécie de robot construído no futuro é enviado ao presente para corrigir decisões que, se forem assumidas, levarão a humanidade a uma guerra autodestrutiva. Pura ficção. No entanto, em certo sentido, Cristo Ressuscitado vem “do futuro”, do final dos tempos, até ao presente. Ele traz em Si a Vitória final e permite que, de algum modo, já a contemplemos e saboreemos. Não vamos encontrar o Ressuscitado apenas no final dos tempos. Ele está “já” connosco, acompanha-nos.

As comparações, mais ou menos felizes, com a Ressurreição de Jesus, têm, no entanto, menos impacto do que a narração dos factos. Jesus ressuscitado caminha com dois dos seus discípulos que se afastam, desanimados, do local onde O viram morrer. Jesus recupera-os com as suas palavras e com a sua presença misteriosa. Jesus ressuscitado está sempre presente na sua Igreja, em cada época da História.

O nosso “trabalho” é reconhecê-Lo junto de nós e falar com Ele confiadamente. Mesmo sem O ver, Cristo ressuscitado é real. Está connosco. Acompanha-nos com ternura. Estende-nos constantemente as suas mãos chagadas, com as que venceu a morte e todos os outros males.

No tempo pascal, esforcemo-nos por contemplar Cristo ressuscitado que traz em Si o anúncio da vitória definitiva sobre o mal. A nossa esperança é sempre Ele.

Pe. João Paulo Pimentel