Do Pároco

A guerra é um mal terrível. Infelizmente, vamos sendo confrontados diariamente com as dramáticas notícias que nos chegam da Ucrânia e de Gaza. No entanto, sempre houve autores espirituais que se serviram das táticas militares para ilustrar o combate espiritual que todos devemos travar.

Temos inimigos? Sim, muitos. S. João enumera o mundo, o demónio e a carne. O mundo, tanto pelas perseguições que inflige como pelos oásis enfeitiçadores que nos distraem do essencial. O demónio: um ser pessoal e inteligente cujo único propósito é invadir para destruir; além disso, não se cansa e não vai desistir de nos enganar enquanto vivermos. Finalmente, a carne, o nosso eu, que muitas vezes reclama demasiada atenção e está sempre a dar-nos «contraordens».

Estes três inimigos estão sempre diante de nós e, muitas vezes, as suas investidas são imprevistas. Por isso, procuramos que haja fortificações e defesas prontas a enfrentar esses ataques inevitáveis. A primeira derrota seria ignorar ou desvalorizar o inimigo. Algo próprio de pessoas ingénuas. Contamos com «espiões» do nosso lado – os Anjos – que lá nos vão avisando dos perigos, embora em muitas ocasiões, por falta de atenção da nossa parte, não tenhamos entendido a tempo o «código» que nos advertia de um ataque iminente.

Neste combate pessoal, podemos sempre contar com Deus. S. Paulo é clarividente: “Ainda não vos surpreendeu nenhuma tentação que ultrapassasse a medida humana. Deus, que é fiel, não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças. Em caso de tentação, dar-vos-á os meios de lhe resistir” (1 Cor 10, 13). Por outras palavras: contando com a graça de Deus, podemos vencer sempre os inimigos sem que isso signifique que não haja batalhas espirituais difíceis.

Na mensagem para a Quaresma deste ano, o Papa escreve: “Isto comporta uma luta: assim no-lo dizem claramente o livro do Êxodo e as tentações de Jesus no deserto. (…) Mais temíveis que o Faraó são os ídolos: poderíamos considerá-los como a voz do inimigo dentro de nós. Poder tudo, ser louvado por todos, levar a melhor sobre todos: todo o ser humano sente dentro de si a sedução desta mentira.”

Jesus aceitou o combate no deserto. Mostrou-nos que ninguém escapa a esse confronto. Querer seguir a Cristo sem nos dispormos a lutar, sempre apoiados n’Ele, é não O seguir.

Nas homilias dominicais deste tempo quaresmal, falarei de cinco ídolos concretos: o culto da imagem, a obsessão por ter tudo controlado, o amor irracional às próprias ideias, a cegueira preguiçosa para as coisas de Deus, a displicência em proteger o coração. Peçamos a Jesus, como sugeriu S. Agostinho, que vença também em nós.

Pe. João Paulo Pimentel