Do Pároco

Foi o próprio Alec Guiness, um dos famosos atores do século passado, que narrou o que lhe sucedeu um dia, em França. Encontrava-se numa pacata zona rural daquele país, a rodar um filme em que interpretava o Padre Brown, o sacerdote detetive criado por Chesterton. Vestia batina. Após o trabalho, sentiu vontade de regressar para o alojamento a pé, vestido tal como se encontrava. Devia percorrer alguns quilómetros.

Ao passar por uma pequena vila, veio ter com ele a correr uma criança de sete anos, a gritar: Mon père! Segurou a sua mão e beijou-a. Ele nada disse porque mal sabia falar francês. Após alguns instantes a criança retirou-se aos pulos de alegria. O ator prosseguiu o seu caminho, refletindo assim: uma Igreja que consegue inspirar esta confiança numa criança, e que torna os seus padres, mesmo desconhecidos, tão próximos a elas, não pode ser assim tão má. Desde então começou a sacudir os seus muitos preconceitos contra a Igreja Católica. Se comparamos esta lembrança com o relatório sobre os abusos na Igreja em Portugal, a dor que vivemos ainda se agudiza mais ao pensarmos nas crianças que, em vez de terem usufruído da alegria e paz que tantos de nós sempre experimentámos na Igreja, foram atraiçoadas e ultrajadas.

A constatação de uma realidade que sempre desejámos não encontrar, leva-nos a questionar: e agora, que faremos? Com certeza que há muitas medidas a serem tomadas. Mas, para já e de modo imediato, lembremos os recursos que Nossa Senhora pediu aos Pastorinhos num tempo também ele muito conturbado: mais oração, mais penitência, mais conversão.

Em 2010, Bento XVI, no contexto de uma situação similar à nossa, escreveu a Carta à Irlanda que aconselho na íntegra. Nela, sugeria: “Peço-vos que ofereçais o vosso jejum, a vossa oração, a vossa leitura da Sagrada Escritura e as vossas obras de misericórdia para obter a graça da cura e da renovação para a Igreja na Irlanda. Encorajo-vos a redescobrir o sacramento da Reconciliação e a valer-vos com mais frequência da força transformadora da sua graça. (…) Peço que as paróquias, os seminários, as casas religiosas e os mosteiros organizem tempos para a adoração eucarística, de modo que todos tenham a possibilidade de participar deles” (n.o 14).

Percorramos assim o caminho quaresmal, com maior desejo de nos unirmos a Cristo na sua oração, jejum e combate espiritual por todos nós. Ofereçamos as Vias Sacras, os Terços e as Missas por esta intenção reparadora. Não nos furtemos a estar presentes nos momentos da adoração eucarística, mesmo que custe. Temos mais razões que nunca para tomar muito a sério o tempo quaresmal.

Pe. João Paulo Pimentel