Do Pároco

Apesar de já ter preparado outro editorial, dadas as circunstâncias que vivemos pareceu-me oportuno sugerir a leitura atenta e íntegra dos nn. 256-262 da Encíclica do Papa Francisco, Fratelli tutti. Transcrevo a seguir alguns parágrafos:

«A guerra não é um fantasma do passado, mas tornou-se uma ameaça constante. O mundo está a encontrar cada vez mais dificuldade no lento caminho da paz que empreendera e começava a dar alguns frutos. Dado que se estão a criar novamente as condições para a proliferação de guerras, lembro que a guerra é a negação de todos os direitos e uma agressão dramática ao meio ambiente. (…)

Quero destacar que os 75 anos de existência das Nações Unidas e a experiência dos primeiros 20 anos deste milénio mostram que a plena aplicação das normas internacionais é realmente eficaz e que a sua inobservância é nociva. A Carta das Nações Unidas, respeitada e aplicada com transparência e sinceridade, é um ponto de referência obrigatório de justiça e um veículo de paz. Mas isto pressupõe não disfarçar intenções ilícitas nem colocar os interesses particulares de um país ou grupo acima do bem comum mundial. (…)

Deste modo facilmente se opta pela guerra valendo-se de todo o tipo de desculpas aparentemente humanitárias, defensivas ou preventivas, recorrendo-se mesmo à manipulação da informação. De facto, nas últimas décadas, todas as guerras pretenderam ter uma “justificação”. (…) Assim, pretende-se indevidamente justificar inclusive ataques “preventivos” ou ações bélicas que dificilmente não acarretem “males e desordens mais graves do que o mal a eliminar”. (…) É verdade que “nunca a humanidade teve tanto poder sobre si mesma, e nada garante que o utilizará bem”. Assim, já não podemos pensar na guerra como solução, porque provavelmente os riscos sempre serão superiores à hipotética utilidade que se lhe atribua. Perante esta realidade, hoje é muito difícil sustentar os critérios racionais amadurecidos noutros séculos para falar duma possível “guerra justa”. Nunca mais a guerra! (…)
Toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal. Não fiquemos em discussões teóricas, tomemos contacto com as feridas, toquemos a carne de quem paga os danos. (…) Assim poderemos reconhecer o abismo do mal no coração da guerra, e não nos turvará o facto de nos tratarem como ingénuos porque escolhemos a paz.».