Do Pároco

Sendo Patriarca de Veneza, o futuro Papa João Paulo I, agora Beato, compilou uma série de artigos seus e publicou-os num livro encantador: “Ilustríssimos Senhores”.

Num dos artigos, conta a história de um homem aloucado que, munido de uma vara, entra numa montra com objetos de porcelana e começa a quebrá-los violentamente. As pessoas que passam na rua vão-se amontoando para contemplar, atónitos, o massacre das porcelanas. Por fim, o homem é preso. Nesse momento entra em cena um velhinho com um grande tubo de cola para, vagarosamente, reconstruir os objetos quebrados. Podeis ter a certeza – termina o relato – que todo o público se retirará: o bom homem não terá nem sequer um espetador.

A moral da história é intuitiva. Destruir e fazer o mal é fácil e sensacionalista. O bem é árduo e muitas vezes capta pouca atenção,
não serve como espetáculo. Com a sua Ressurreição, Jesus, o novo Adão, reinicia uma “nova” Humanidade. Numa perspetiva meramente humana, a Ressurreição reclamava um público muito mais vasto do que as poucas testemunhas que viram o Ressuscitado. No último capítulo da trilogia sobre Jesus de Nazaré, Bento XVI escreveu: “Porque é que Te mostraste apenas a um pequeno grupo de discípulos, em cujo testemunho temos agora de nos fiar?

A pergunta, porém, diz respeito não só à Ressurreição, mas também a todo o modo como Deus Se revela ao mundo. (…) É próprio do mistério de Deus agir deste modo suave. Só pouco a pouco é que Ele constrói na grande história da humanidade a sua história. Torna Se homem, mas de modo a poder ser ignorado pelos contemporâneos, pelas forças respeitáveis da história. Padece e morre e, como Ressuscitado, quer chegar à humanidade apenas através da fé dos seus, aos quais Se manifesta.”

Há momentos da História onde se notam mais os efeitos destruidores do mal, mesmo dentro da Igreja. Que fazer quando olhamos para tantos irmãos feridos? Agora é a vez do Papa Francisco nos responder através da sua primeira Exortação Apostólica (A Alegria do Evangelho, n.º 276) “A sua Ressurreição não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual. (…) Num campo arrasado, volta a aparecer a vida, tenaz e invencível. Haverá muitas coisas más, mas o bem sempre tende a reaparecer e espalhar-se. (…) Esta é a força da Ressurreição, e cada evangelizador é um instrumento deste dinamismo.”

Só contemplando a Ressurreição do Senhor pode renascer em nós uma esperança verdadeira. Só com Cristo Ressuscitado podemos curar todas as feridas de um modo materno. Com toda a paciência e arte, como o velhinho do conto.

Pe. João Paulo Pimentel