O Evangelho da criação

Seguindo a sugestão do nosso Patriarca de relermos, durante o ano dedicado à Palavra de Deus como lugar onde nasce a fé, a exortação Verbum Domini de Bento XVI, fomos lembrando alguns dos seus ensinamentos. Neste editorial para os meses de Verão gostaria de propor a importância de «ouvir» Deus também através da Criação.

Lemos na exortação:

«“Os céus proclamam a glória de Deus, o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19, 2). É a própria Sagrada Escritura que nos convida a conhecer o Criador, observando a criação (cf. Sb 13, 5; Rm 1, 19-20). A tradição do pensamento cristão soube aprofundar este elemento-chave da sinfonia da Palavra, quando por exemplo São Boaventura (…) afirma que “cada criatura é palavra de Deus, porque proclama Deus”».

Esta profunda convicção convida a desejar olhar cada criatura com o olhar do Criador. Podemos pedir ao Senhor, neste tempo de maior sossego, um olhar mais contemplativo. O capítulo 13 do livro da Sabedoria pode abrir-nos um bom horizonte.

Como recordou o Papa Francisco na sua encíclica Laudato Sì:

«se pelo simples facto de ser humanas, as pessoas se sentem movidas a cuidar do ambiente de que fazem parte, “os cristãos, em particular, advertem que a sua tarefa no seio da criação e os seus deveres em relação à natureza e ao Criador fazem parte da sua fé”» (n.º 64).

Portanto, o amor ordenado pela Criação não é um acessório à fé.

Não permitamos que nos arranquem (e ainda por cima deformem com uma visão materialista e com toques de idolatria pelas criaturas) uma bandeira que é nossa, dos cristãos.

Aconselho a lerem, durante as férias, o segundo capítulo (O Evangelho da Criação) da referida Encíclica do Papa Francisco. Entusiasmar-nos-á, e talvez aprendamos a ver com outros olhos a Natureza. Ela fala-nos do seu Autor e é essa a primeira razão para a respeitarmos: tudo é d’Ele, do Criador!

Ainda Bento XVI:

«a arrogância do homem que vive como se Deus não existisse, leva a explorar e deturpar a natureza, não a reconhecendo como uma obra da Palavra criadora. (…) O homem precisa de ser novamente educado para se maravilhar, reconhecendo a verdadeira beleza que se manifesta nas coisas criadas» (Verbum Domini, n.º 108).

Portanto e sinteticamente três sugestões de leitura: o capítulo 13 do Livro da Sabedoria, o segundo capítulo da encíclica Laudato Sì do Papa Francisco, e a própria natureza. É verdade que o mar nos refresca e nalguns casos permite fazer surf… Mas, e se nos falasse da misteriosa imensidão de Deus?

Pe. João Paulo Pimentel