Humanae vitae, 50 anos depois: a linguagem do verdadeiro amor

Há 50 anos, a 25 de julho de 1968, o Beato Paulo VI publicava a Encíclica Humanae vitae, sobre a transmissão da vida humana. Paulo VI sabia bem ao que se expunha ao iluminar a consciência humana e oferecer razões para que não se hesitasse em rejeitar as práticas contracetivas. Na audiência geral, 6 dias mais tarde, usando o plural majestático como se fazia na altura, confessava abertamente:

«Nunca antes tínhamos sentido como nesta conjuntura o peso do nosso ministério… (…) Invocando o Espírito Santo, colocámos a nossa consciência para uma plena e livre disposição à voz da verdade (…) e não tivemos dúvida sobre o nosso dever de pronunciar a nossa sentença nos termos expressos pela presente Encíclica» (Castel Gandolfo, 31-7-1968).

Como é sabido, não lhe foram poupadas duras críticas até ao seu falecimento, 10 anos mais tarde. Que disseram da Encíclica os seguintes Papas?

S. João Paulo II foi dela um intrépido defensor, para a qual aliás contribuiu, e para que fosse para todos mais fácil aderir genuinamente aos seus conteúdos, legou à Igreja um importante corpo doutrinal, conhecido como Teologia do corpo. Através dessas catequeses, é possível entender a fundo que o ensinamento da Encíclica flui do Evangelho, flui da visão do homem que Cristo nos oferece. Pertence, pois, à identidade cristã. Com o estudo da Teologia do corpo, milhares de católicos entenderam e assumiram nas suas vidas o programa proposto pela Humanae vitae.

Bento XVI reafirmou os ensinamentos sobre esta matéria e explicou a sua importância. Por exemplo, na sua Encíclica social, Caritas in veritate, mostrou o seu gigantesco alcance social:

«Não se trata de uma moral meramente individual: a Humanæ vitæ indica os fortes laços existentes entre ética da vida e ética social, inaugurando uma temática do Magistério que aos poucos foi tomando corpo em vários documentos, sendo o mais recente a Encíclica Evangelium vitæ de João Paulo II» (n.º 15).

Ainda Bento XVI, num discurso a propósitos dos iminentes 40 anos da publicação da Encíclica, a 10 de maio de 2008, recordava o seu valor perene:

«O meu Predecessor de venerada memória, o Servo de Deus Paulo VI, a 25 de Julho de 1968, publicou a Carta Encíclica Humanae vitae. Aquele momento tornou-se depressa sinal de contradição. Elaborado à luz de uma difícil decisão, ele constitui um significativo gesto de coragem ao reafirmar a continuidade da doutrina e da tradição da Igreja. Aquele texto, muitas vezes mal compreendido e equivocado, muito fez discutir também porque se situava no alvorecer de uma profunda contestação que marcou a vida de gerações inteiras. Quarenta anos depois da sua publicação aquele ensinamento não só manifesta a sua verdade inalterada, mas revela também a clarividência com a qual o problema é tratado. (…) A verdade expressa na Humanae vitae não muda; aliás, precisamente à luz das novas descobertas científicas, o seu ensinamento torna-se mais atual e estimula a refletir sobre o valor intrínseco que possui. (…)
O ensinamento expresso na Encíclica Humanae vitae não é fácil. Contudo, ele está em conformidade com a estrutura fundamental mediante a qual a vida sempre foi transmitida desde a criação do mundo, no respeito da natureza e em conformidade com as suas exigências».

Por fim, o nosso Papa Francisco, na Exortação Amoris laetitiae, refere que «a Encíclica Humanae vitae, destaca o vínculo intrínseco entre amor conjugal e procriação» (n.º 68), e convida a «redescobrir a mensagem da Encíclica Humanae vitae de Paulo VI, que sublinha a necessidade de respeitar a dignidade da pessoa na avaliação moral dos métodos de regulação da natalidade» (n.º 82 e cfr. também n.º 222).

Apesar da clareza da proposta, é preciso reconhecer que, mesmo no seio da Igreja católica, a resistência e o mau estar (quando não uma gélida indiferença) à proposta da Humanae vitae, são ainda muito acentuados. Talvez aproveitando a efeméride, possa ser útil ler (ou reler) uns ensinamentos que, com toda a certeza como confessou Paulo VI, foram inspirados «pelo Espírito Santo». Não esperemos pelo aplauso mediático ou por um consenso cultural para abraçar umas orientações que protegem e engrandecem o ser humano e atraem bênçãos do Céu para toda a família.

Pe. João Paulo Pimentel