Cristãos sempre e em tudo

Na recente Exortação Apostólica, «Alegrai-vos e exultai», o Papa Francisco escreve, quase no final do documento:

«Em todos os aspetos da existência, podemos continuar a crescer e dar algo mais a Deus, mesmo naqueles em que experimentamos as dificuldades mais fortes. Mas é necessário pedir ao Espírito Santo que nos liberte e expulse aquele medo que nos leva a negar-Lhe a entrada nalguns aspetos da nossa vida» (n.º 175).

Este será sempre um grande desafio para os cristãos de todos os tempos. É fácil reservar algum tempo – mais ou menos alargado – ou alguns âmbitos da nossa vida para Deus. Mas Deus tem o direito a não ficar por nós deliberadamente excluído de algum dos nossos momentos (por exemplo, o descanso) ou dos nossos circuitos habituais (por exemplo, na nossa vida em sociedade). Perder o medo de O convidarmos a estar sempre connosco, para além de ser algo justo para com Ele, traduz a convicção profunda de que Deus não vem para roubar nada ou enfraquecer o nosso eu. Pelo contrário, vem para enriquecer com a sua Vida tanto a cada um como à sociedade em geral.

Por isso, neste ano pastoral em que somos convidados a ver a Palavra de Deus como «o lugar onde nasce a fé», pedimos que ela nos transforme. Bento XVI, no documento que fomos convidados a ler neste ano, recordou:

«o compromisso pela justiça e a transformação do mundo é constitutivo da evangelização. Como dizia o Papa Paulo VI, trata-se de “chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação”» (Exor. Apost. Verbum Domini, n.º 100).

É certo que não se trata de impor a ninguém o modo cristão de entender o mundo. Mas seria anacrónico que os cristãos fossem os únicos cidadãos a não poderem inspirar-se nos valores que bem entendem (os do Evangelho, neste caso) e, pessoalmente assumidos, proporem-nos a outros de forma serena e convicta. A eutanásia, a frívola desvalorização da identidade sexual, o trato desumano para com os imigrantes, etc., são faltas sérias contra a justiça que nos recordam que há muito a fazer na tarefa de Evangelização.

Uma fé que não se torna cultura – repetia S. João Paulo II – «é uma fé que não é acolhida de modo pleno, que não é inteiramente pensada nem vivida com fidelidade».

Pe. João Paulo Pimentel