Do Pároco

A própria expressão é dolorosa. Por um lado, irmãos, mas ao mesmo tempo separados, sem estar no mesmo lar. Reconhece-se «algo» em comum –uma mesma origem, um mesmo Batismo– e, no entanto, algo de diferente. Em teoria, o que nos une é «mais» que o que nos separa. Todos reivindicam a amizade com Cristo. Mas não basta.

Como muito bem explicou S. João Paulo II na Encíclica sobre o empenho ecuménico (Ut unum sint), «a plena comunhão deverá realizar-se mediante a aceitação completa da verdade, na qual o Espírito Santo introduz os discípulos de Cristo. Há-de ser, portanto, evitada absolutamente toda a forma de reducionismo ou de fácil “concordismo”. As questões sérias têm de ser resolvidas» (n.º 36).

O movimento ecuménico parte da certeza de que a vontade de Cristo é a de que «todos sejam um», como Cristo e o Pai. A separação dos cristãos é um mal, uma ferida no Coração de Cristo. A referida encíclica relembra que «acreditar em Cristo significa querer a unidade; querer a unidade significa querer a Igreja; querer a Igreja significa querer a comunhão de graça que corresponde ao desígnio do Pai desde toda a eternidade» (n.º 9).

S. João Paulo II sempre insistiu que a par dos diálogos teológicos entre representantes das diferentes igrejas, deveria haver uma aproximação leal entre os cristãos, que contribuísse a quebrar desconfianças e ressentimentos de séculos. Seria ótimo fomentarmos a amizade com os «irmãos separados», trabalhar com eles em causas que nos unem, ouvi-los com atenção, expor-lhes lealmente o que acreditamos. Com maioria de razão, o mesmo se deve dizer no relacionamento com os católicos que, sempre na unidade da fé, mantém sensibilidades diferentes quanto ao modo de viver essa fé.

Na semana de 18 a 25 de janeiro, semana da oração pela união dos cristãos, ao mesmo tempo que pedimos ao Senhor a grande graça da união entre todos os batizados, fomentemos um coração grande, capaz de conviver fraternalmente com todos, e esforçando-nos em não gerar novas divisões.

Não esqueçamos nem retiremos importância a um ensinamento que se encontra nos «genes» da Igreja fundada por Cristo: o Santo Padre «é princípio perpétuo e visível, e fundamento da unidade que liga, entre si, tanto os bispos como a multidão dos fiéis (Lumen Gentium, n.º 23).

Pe. João Paulo Pimentel