O Evangelho do silêncio

Na Sexta-feira Santa, contemplaremos Cristo crucificado. A Cruz fala-nos do Amor até ao extremo, um amor inimaginável, um amor que se expressa quase só por gestos. O ato de amor supremo não necessitou de muitas palavras. Na Cruz, Cristo oferece-nos o seu amor em silêncio.

Ao mesmo tempo, Cristo parece experimentar o silêncio do Pai:

«Como mostra a Cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra encarnada» (Bento XVI, Exort. Apostólica Verbum Domini, n.º 21).

Deus fala pelo silêncio…

Há quem «depois de ter escutado e reconhecido a Palavra de Deus, deve confrontar-se também com o seu silêncio. É uma experiência vivida por muitos Santos e místicos, e que ainda hoje faz parte do caminho de muitos fiéis. O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio. Portanto, na dinâmica da revelação cristã, o silêncio aparece como uma expressão importante da Palavra de Deus» (Ibidem).

Gostaria de propor que, durante a Quaresma queiramos descobrir como de facto, Deus também nos fala no silêncio. Por um lado, proponhamo-nos reduzir o tempo de telemóvel, headphones, televisão, etc. evitando assim interferências com o que Deus nos quer dizer. Por outro lado, entremos mais vezes na igreja e, talvez depois de lermos a Palavra do Senhor, aprendamos a estar em silêncio diante de Deus.

Preparemo-nos também para saborear os silêncios da Semana Santa: a adoração noturna de Quinta-feira Santa; o breve silêncio que se segue à narração da morte de Jesus no Evangelho do domingo de Ramos e na Leitura da Paixão de Sexta-feira; aprendamos, na tarde desse dia, a estar em silêncio diante da Cruz; por fim, vivamos, de algum modo, o grande silêncio do Sábado Santo, acompanhando Nossa Senhora com mais oração.

No centro do mês de março, celebraremos S. José. Um homem santo de quem não conhecemos uma palavra. Vislumbramos a sua «insondável vida interior» (S. João Paulo II) e a sua categoria humana e espiritual através das suas decisões e atitudes. S. José encarna, de modo silencioso, o Evangelho do trabalho, da fidelidade aos planos de Deus, do amor incondicional e sem hesitações.

Podemos ter a certeza de que uma boa parte da grande eficácia da Quaresma e do Tríduo Sacro em nós dependerá do nosso silêncio orante.

Pe. João Paulo Pimentel