Caminhar ao ritmo da Palavra

Ao publicar o retiro que, em 1983, o então Cardeal Ratzinger pregou à Cúria Romana, o autor explicava que, na realidade, «os quarenta dias da Quaresma já são, em si mesmos, os grandes exercícios espirituais que a Igreja nos oferece todos os anos». Basta seguir com atenção os textos que a liturgia propõe para esses dias.

Na primeira etapa da receção das conclusões do Sínodo diocesano em que desejamos incorporar nas nossas vidas a convicção de que a Palavra de Deus «é o lugar onde nasce a fé», temos assim uma grande ocasião para experimentar esta verdade no tempo quaresmal que começa na quarta-feira de Cinzas. Trata-se de uma ocasião de ouro para redescobrir como a Palavra de Deus é suavemente transformadora de vidas.

Recordemos uma grande lição que o Cardeal Luciani, futuro João Paulo I, transmitia em forma de história didática. Perante um fala-barato que, no speaker’s corner do Hyde Park londrino, investia contra o catolicismo e a ineficácia dos seus múltiplos meios, um católico ali presente fez-lhe notar que a sua gola da camisa estava bem suja apesar da água e sabão existirem há muito tempo. Os meios que Cristo entregou à sua Igreja são santos mas é necessário que os queiramos usar com fé. A Palavra de Deus é realmente eficaz mas precisamos de a deixar atuar em nós.

Como apoiar-nos mais na Palavra e deixar que ela marque o ritmo das nossas vidas, das nossas decisões, dos nossos pensamentos? Um bom caminho é decidirmo-nos a escutá-la na vida da Igreja. Escreveu Bento XVI:

«Considerando a Igreja como “casa da Palavra”, deve-se antes de tudo dar atenção à Liturgia sagrada. Esta constitui, efetivamente, o âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa vida: fala hoje ao seu povo, que escuta e responde» (Exort. Apostólica Verbum Domini, n.º 52).

Assim sendo, por que não experimentar viver a Quaresma participando diariamente na Santa Missa, cuidando a expectativa do que a Palavra nos diz em cada celebração? Claro que sempre podemos ler em casa a liturgia diária e será sempre muito útil. Mas não é o mesmo, como remata a Exortação Apostólica:

«a Igreja sempre mostrou ter consciência de que, na ação litúrgica, a Palavra de Deus é acompanhada pela ação íntima do Espírito Santo que a torna operante no coração dos fiéis» (Ibidem).

Missa diária na Quaresma… Aqui fica a sugestão.

Pe. João Paulo Pimentel