A ilha de Ceilão, a Taprobana da Antiguidade – atual Sri Lanka -, atraiu a atenção de Portugal desde a chegada de Vasco da Gama à Índia. Ponto nevrálgico da navegação entre as duas metades do Índico, o desembarque dos portugueses na ilha dá-se pela primeira vez em 1505, na pessoa de D. Lourenço de Almeida.
A primeira missa em terras de Ceilão é celebrada pelo franciscano Frei Vicente.
Os franciscanos tiveram um papel primordial na cristianização da ilha. Os missionários começam o seu trabalho com o encorajamento do rei de Cota, D. João Dharmapal, que se batiza, juntamente com a sua família, em 1556. Por sua morte, e não tendo herdeiros, doa o reino à coroa portuguesa.
O reino de Cândia – o reino das montanhas – era, contudo, palco de grande turbulência política. O rei, expulso por adversários, procura refúgio entre os portugueses. Recebendo formação cristã, é batizado em Goa juntamente com o filho, D. João de Cândia, em 1588. Em agradecimento pela proteção e por todos os benefícios recebidos, também ele deixa o seu reino à coroa de Portugal.
O filho do rei de Cândia, D. João de Cândia, é forçado a abandonar o reino à instabilidade política, e levado – juntamente com seu primo D. Filipe de Ceitacava – para Colombo e depois para Goa, sempre sob custódia de frades franciscanos; viverá e estudará por uns quinze anos no Colégio dos Reis Magos, em Bardés, perto de Goa, onde se tornou clérigo.
Por volta de 1611, vem para Portugal, a seu pedido, e por ordem de D. Filipe II de Portugal, receberá uma tença condigna com a sua pessoa de 4000 cruzados anuais. Residirá num palácio às portas da Mouraria, no ambiente usual entre a nobreza da época.
Na Quinta do Ouvidor-Mór, em Telheiras – mais tarde conhecida por Quinta do Príncipe – cria em 1625 a Irmandade de Nossa Senhora da Porta do Céu e do Glorioso São João Baptista, de que é o primeiro irmão e juiz. Nesse ano, renuncia aos seus direitos e aos reinos de Cândia, Cota, Ceitacava e Setecorlas, no Ceilão, recebendo do rei Filipe II uma maior dignidade e brasão, acrescentando à tença mais 4000 cruzados anuais em pensões eclesiásticas.
Manda erigir em Telheiras um Oratório, sob a invocação de Nossa Senhora da Porta do Céu, e um convento que entrega aos franciscanos, destinando-o à convalescença dos religiosos, devido ao clima ameno do local. Doa grande número de alfaias preciosas destinadas ao culto litúrgico. Em 1634 inicia-se uma pequena comunidade de frades capelães, e ele próprio habita numa casa contígua à clausura, com a qual tinha comunicação, a fim de poder fazer vida com os religiosos.
Morre em 1642, na sua casa de Telheiras, tendo sido, a seu pedido, sepultado “na sua ermida de Telheiras”. As duas pedras do túmulo original do Príncipe de Cândia encontram-se atualmente no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa.
A INVOCAÇÃO DE NOSSA SENHORA DA PORTA DO CÉU
Trata-se de uma invocação não usual como padroeira de uma igreja, embora já utilizada desde os primeiros cristãos.
A Virgem está representada com o Menino ao colo, e uma chave na mão, aludindo à sua intercessão como porta de entrada no céu. A imagem com esta invocação terá sido encomendada por D. João de Cândia “a um primoroso escultor, do qual tinha notícia que havia nas Índias de Castela [América espanhola]”, segundo Frei Agostinho de Santa Maria. Foi entronizada nesta em camarim e trono de talha dourada.
A chave de prata que a Virgem tinha na mão circulava entre as casas dos doentes da zona, sendo em particular depositada nas mãos dos moribundos, para que Nossa Senhora lhes abrisse as portas do céu.
A Irmandade de Nossa Senhora da Porta do Céu e do Glorioso São João Baptista foi instituída pelo príncipe de Cândia, seu primeiro juiz, contando entre os seus membros figuras de grande relevo entre a nobreza da época.
O CONVENTO
João, Príncipe de Cândia, edifica em 1625 um Oratório com a invocação de Nossa Senhora da Porta do Céu, num terreno já antes adquirido em Telheiras.
Por volta de 1634, com a entronização duma pequena comunidade conventual, inicia-se o convento destinado à convalescença de religiosos franciscanos que entregará à Ordem em 1639.
Em 1642, quando morre o príncipe, o governo do convento está nas mãos de Frei Manuel da Esperança e a construção quase terminada. Nesses momentos confusos, boa parte dos bens doados ao convento pelo fundador acabam por ser de lá retirados.
Por volta de 1700, o convento é objeto de uma campanha de obras, conseguindo Frei Manuel do Sepulcro recuperar algumas das peças que lhe pertenciam e substituir outras.
Em 1708, os frades procedem à trasladação dos ossos de D. João de Cândia. Foi sepultado em carneiro sob o altar-mor. Os restos deviam ser trasladados para o lado esquerdo da capela-mor onde colocou as suas pedras sepulcrais (o seu brasão tendo por debaixo uma legenda: “Aqui se encontram sepultados os ossos do Príncipe de Cândia que fundou esta sagrada casa de Maria”). O Marquês colocá-los-á no túmulo que o príncipe se havia destinado.
O brasão e a lápide serão retirados, em 1927, para o Museu do Convento do Carmo. Com o restauro de 1941, os ossos do príncipe, assim como os de todos os outros defuntos que jaziam na capela-mor foram colocados no carneiro primitivo, onde indistintamente ainda se encontram.
Os reis dessa época visitavam e frequentavam o Oratório. A nobreza acompanhou a realeza e Telheiras enobreceu-se. Em 1752, o convento conhece um período áureo, em que D. José I e D. Mariana Vitória eram juízes da Irmandade de Nossa Senhora da Porta do Céu.
Em 1755, o presidente da mesa da Irmandade era Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, que ordenou a rápida reconstrução do Oratório na sequência do terramoto; as obras ficaram concluídas em 1768.
Em 1833, no quadro da guerra civil, o convento é ocupado pelo exército liberal; os frades abandonam o local, a biblioteca conventual é destruída e a igreja saqueada, estragados os cinco sinos e o relógio da torre. Em 1834, é declarada a extinção do convento. Em 1880, a imagem do retábulo será resguardada numa ermita de um particular.
Em 1882, o governo decide vender a igreja, então em avançado estado de degradação. A Ordem Franciscana quis regressar, mas, perante o custo das obras, desistiu. Em 1910, porém, por ocasião da instauração da República, as dependências conventuais são ocupadas por diversas famílias, sendo instalada na igreja uma serralharia civil e oficina de ferreiro.
Em 1941 é dada ordem de restauro da igreja, o que permitirá a reabertura ao culto ainda nesse ano.
Em 2004, é criada a Paróquia de Nossa Senhora da Porta do Céu.
Em 2006 são realizadas obras profundas de restauro, através de financiamento público e privado, as quais deram à igreja um novo encanto. O imóvel foi classificado como monumento de interesse público em 2007.
CRONOLOGIA DA PARÓQUIA DA NOSSA SENHORA DA PORTA DO CÉU