Do Pároco

Para nós, aqui em Portugal, os milhares de cristãos perseguidos, torturados e mortos em várias partes do mundo são uma longínqua periferia. Pelo menos por agora, não lidamos com esse tipo de perseguição. Mas seria uma pena se deixássemos que crescesse no nosso coração uma certa indiferença ou ficássemos satisfeitos por uma vaga compaixão que, no fundo, não afeta o nosso dia-a-dia. No entanto, eles são nossos irmãos na fé. Padecem nas suas vidas por serem fiéis a Cristo e à Igreja. Não deveríamos deixar que permaneçam afastados de nós, das nossas orações e do sincero interesse pelo que lhes sucede.

Há umas semanas, um amigo meu escreveu um bom artigo sobre um seminarista nigeriano, assassinado este ano. O artigo tem por título: «Michael Nnadi: 18 anos». Copio um extrato:

No dia 8 de janeiro passado, quatro seminaristas nigerianos (…) foram raptados. Dez dias depois, o primeiro foi libertado, com muitas feridas. No dia 1 de fevereiro foram libertados mais dois seminaristas e, no dia seguinte, chegou a notícia de que o mais novo, Michael Nnadi, tinha sido torturado e morto. Este tipo de sacudidelas tem o condão de libertar as almas fortes das distrações e revigorar a sua energia. Da Nigéria, continuam a chegar notícias: “Outros se preparam para servir Deus. Mais gente está a chegar ao seminário para serem padres e pregar o Evangelho como Cristo nos mandou”.

Muitas vezes a nossa reação a esse tipo de notícias fica limitada a uma legítima indignação: «quando é que a ONU põe cobro a estas matanças? Porque não fazem alguma coisa? Inclinamo-nos com excessiva facilidade a pensar no que outros podem fazer. E nós, aqui e agora? Como nos podemos unir mais a todos os cristãos perseguidos?

A expressão é antiga: «o sangue dos mártires é semente de cristãos». Como diz o autor do tal artigo, estas tristes notícias «acordam» muitos cristãos adormecidos que não sabem na prática o que é «viver a fé» até às últimas consequências. Talvez possamos rezar mais por eles e talvez possamos permitir que as suas vidas nos interpelem e nos ajudem a ser um pouco mais generosos com o Senhor. Não duvidemos que a sua entrega é um enorme dom a toda a Igreja e a todos os cristãos.

Pe. João Paulo Pimentel