Caríssimos paroquianos e amigos:

Gostaria de vos enviar umas breves linhas, com sugestões concretas para vivermos melhor estes dias difíceis. Partimos sempre do dado da fé, de que Deus é o Senhor da História, o Senhor do Universo, o Redentor do mundo, o Deus Providente que Se ocupa de cada um e que ensina a tirar bem do mal. Com esta profunda confiança, que aspetos podemos cultivar nestas semanas em que ficaremos privados da Santa Missa e, em muitos casos, recluídos em casa?

Em primeiro lugar, embora estejamos dispensados do preceito dominical, o Mandamento de santificar as festas mantém-se. O domingo continua a ser o Dia do Senhor. A ausência de Missas comunitárias vai reclamar de cada família e de cada um que se responsabilize mais pelo modo como dedica a Deus o seu tempo. Pode ser um bom teste à autenticidade do nosso amor a Deus e à Eucaristia. Dirijamo-nos ao Senhor, e queixemo-nos da sua ausência eucarística na Missa, pedindo-Lhe que «volte» quanto antes a reunir-nos a todos à volta do altar. Alternativas? Reunir a família e assistir a uma das Missas online: é provavelmente o melhor recurso, com a «vantagem» dos pais poderem até ir explicando aos filhos cada parte da Missa, resumindo as homilias para eles, etc.; também é possível fazer uma leitura familiar das leituras, rezar o terço com toda a família.

Como já referi, não deixarei de celebrar a Missa individualmente, unido a todos. Relembro o cânon 904 do Código do Direito Canónico:

Os sacerdotes, tendo sempre presente que no mistério do Sacrifício eucarístico se realiza continuamente a obra da redenção, celebrem com frequência; mais, recomenda-se-lhes instantemente a celebração quotidiana, a qual, ainda quando não possa haver a presença de fiéis, é um ato de Cristo e da Igreja, em que os sacerdotes desempenham o seu múnus principal.

Não deixemos de considerar que toda a Igreja beneficia com cada Missa celebrada.

O amor à Igreja também pode aumentar muito nestes dias. A consciência de termos todos de enfrentar momentos difíceis leva-nos, espontaneamente, a procurar o que é realmente essencial. A união ao Papa e aos Bispos aparece, mais do que nunca, como algo essencial, e as questiúnculas de sacristia perdem relevo: o vírus recorda-nos que há um mal mundial e que precisamos estar unidos e em sintonia para o derrotar. Desunidos, não conseguimos.

Obedecei aos vossos pastores e sede-lhes sujeitos, porque velam pelas vossas almas, como quem há-de dar conta delas, para que façam isto com alegria, e não gemendo, o que não vos seria vantajoso (Hb 13, 17).

A multiplicidade de recursos litúrgicos online é um convite para nos abrirmos às várias propostas, para conhecer e agradecer os carismas e a sã variedade nos modos de rezar e de anunciar a Palavra de Deus. Existe agora uma enorme possibilidade de aumentar a visão universal da Igreja. Partilhar, uns com os outros, as iniciativas que mais nos ajudem, venham de onde vierem, será uma grande bênção.

Em Telheiras, manteremos a igreja aberta dentro dos horários normais e as confissões para quem desejar. Se os doentes desejarem receber a Comunhão, não hesitem em contactar-nos.

Encontrem algum tempo para rezar a sós. Se não for prudente ir à igreja, arranjem tempo em casa para tempos exclusivos diários de oração.

A necessária reclusão é uma enorme oportunidade para (finalmente!) conseguir prestar maior atenção à família. Haverá tempo para jogos familiares, para boas conversas, para serões passados juntos. Vamos redescobrir a beleza da vida familiar? A possibilidade de contactos online facilitará, de algum modo, o isolamento que, porém, nos ajudará a ser mais conscientes que não estamos bem sozinhos, longe uns dos outros. É bom sentir saudades dos amigos e ter o desejo de nos voltarmos a reunir assim que possível.

Um aspeto essencial destas situações de crise é desanuviar o ambiente para que as crianças não se assustem. Talvez sem o mesmo dramatismo, pode ajudar recordar o papel de Roberto Begnini no filme «A vida é bela». É um gigantesco gesto de caridade encontrar modos de divertir as crianças, de as fazer descansar, de não as assustar desnecessariamente, e de lhes recordar que descansem em Deus. A todos os que inventem jogos online ou recursos para as fazer rir, por favor potenciam-nos ao máximo. Talvez possa surgir a figura da babysitter online

Se algum dos nossos familiares ou amigos for contagiado com o vírus, não nos afastemos dele, mesmo mantendo as precauções higiénicas. Ninguém se pode sentir abandonado. Nessas circunstâncias, vale a pena perguntar-se muitas vezes: como gostaria que me ajudassem? Mais uma vez, os meios tecnológicos podem facilitar que alguém se sinta sozinho. Logicamente, rezaremos pela pessoa, para que recupere, e dedicar-lhe-emos mais tempo de conversa, pelos meios que pudermos.

A mentalidade do «salve-se-quem-puder» é para ser banida. Aqui não se trata apenas de que «eu e os meus não sejamos contagiados». Estamos todos no mesmo barco, as medidas de precaução são para bem de todos e não deveremos nunca fechar o coração a ninguém. Teremos boas ocasiões para cultivar a solidariedade dos bens materiais bem como o uso moderado e contido dos mesmos: nestas circunstâncias o desperdício é ainda mais grave. Saberemos dar valor e rezar por médicos, enfermeiros e todo o pessoal sanitário: eles têm mesmo que correr riscos, apesar de terem a própria família. Vamos apoiá-los a sério.

Finalmente, e mesmo sabendo que todos somos falíveis e as medidas sempre podem ser aperfeiçoadas, é um bom momento para recordar que os cristãos procuram ser bons cidadãos e obedecer às autoridades em tudo o que não for contra a Lei de Deus. Lembremos as palavras de S. Paulo a Tito:

Lembra-lhes que sejam sujeitos aos magistrados e às autoridades, que lhes obedeçam, que estejam prontos para fazer o bem; que não digam mal de ninguém, nem provoquem discórdias, mas sejam modestos, cheios de doçura para com todos os homens (Tit 3, 1-2).

Termino como comecei, agora com palavras de Jesus: «Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, Eu venci o mundo» (Jo 16, 33). Não deixemos de pedir com fé ao Senhor a cura deste terrível mal. A oração de petição, com a certeza da Omnipotência divina, é um dos frutos que todos poderemos receber nestes dias.

No nosso caso, como portugueses, as simples orações que os Pastorinhos faziam para pedir a Deus, por intercessão de Maria, as graças para tanta gente afligida por diferentes males, servir-nos-á de modelo. Redescubramos o poder do terço.

Com toda a amizade e já com saudades vossas, peço ao Senhor as bênçãos para cada um

Pe. João Paulo Pimentel