Caríssimos paroquianos e amigos da paróquia de Telheiras:

Embora seja verdade que tenha procurado informar do que vai sucedendo no final das missas de domingo, sinto que volta a ser o momento de o fazer por escrito para:

A) Expor sinteticamente a situação depois da reunião na CML na passada segunda-feira, 30 de abril;
B) Sublinhar sinteticamente as mais-valias que o nosso projeto pode ter para todos e
C) Esclarecer alguns dados e opiniões que têm sido divulgados e que, apesar de toda a boa intenção, ou não são de todo corretos ou não correspondem inteiramente à verdade.

A) Sobre a reunião na CML

Sobre a reunião na CML (cujas conclusões foram por mim comunicadas ao Sr. Patriarca), com o Sr. Arqº Manuel Salgado e o Dr. Pedro Delgado Alves, no dia 30 de abril de 2018. Ficou combinado entre as partes o seguinte:

– a suspensão imediata dos prazos a que o contrato do direito de superfície do terreno nomeado como K0 (entre a R. Hermano Neves e a R. José Escada) obriga; de comum acordo, a Paróquia apresentou um requerimento nesse sentido. Essa suspensão permitirá estudar sem pressas as alternativas. O terreno continuará a pertencer à Fábrica da igreja até que haja uma possível permuta, se esta tiver lugar.

– a paróquia compromete-se a apresentar as volumetrias de que tem necessidade para avaliar a possibilidade de edificação em dois terrenos alternativos (até agora são as duas únicas alternativas). São eles:
a) No final da estrada de Telheiras, em frente do Colégio Mira Rio. Dado que nos foi dito que a área das hortas é intocável, no terreno disponível apenas seria possível edificar o Centro paroquial e social, mas não uma nova igreja.
b) No Alto da Faia, junto ao polidesportivo recém contruído. Nesse terreno é altamente provável que se possa edificar tanto uma nova igreja como o Centro paroquial e social.

Compete à CML, e foi isso que assumiu, não só verificar e assegurar cuidadosamente a possibilidade de edificação em cada um desses terrenos, como também estudar o eventual impacto na população de cada um deles. Depois do estudo feito, compete à paróquia sempre em estreita ligação com o Patriarcado, tomar uma decisão que pode versar portanto sobre uma das três possibilidades: a duas anteriores ou a do terreno K0.

Como qualquer pessoa pode intuir, as três soluções têm vantagens e inconvenientes. Mesmo que haja soluções preferenciais, cada uma das três tem paroquianos que por ela opta. Gostaria de tentar resumir as vantagens e inconvenientes de cada um deles, sobretudo das duas novas alternativas, tal como eu as sintetizei depois de escutar muitas pessoas.

1) As duas soluções alternativas ao K0 têm a vantagem de evitar que aumente uma crispação no bairro. Não se trata, como alguns sugeriram, de um temor às manifestações ou aos meios de comunicação social. Trata-se de aprender a ceder em tudo o que não essencial, evitando criar novas incompreensões.
Para além disso, a opção a) (que não incluiria a construção de uma nova igreja) teria as seguintes vantagens:
– ficaria tudo concentrado no centro originário da igreja; a igreja atual seria definitivamente revalorizada, com possibilidades de a embelezarmos ainda mais;
– com toda a probabilidade, conseguiríamos edificar mais rapidamente o centro paroquial que é o mais urgente para as necessidades da paróquia;
– o financiamento seria mais acessível;
– seria possível ter uma salão paroquial grande, capaz de incluir mais de 300 pessoas para o caso de grandes celebrações, tal como sucede nalguma outra paróquia.
Tem o inconveniente de cortar a possibilidade de termos uma igreja grande o que pode supor um certo freio ao desejado dinamismo da paróquia e contraria os anseios de uma parte da comunidade paroquial que há muito por ela deseja.

A opção b) (Alto da Faia) teria as seguintes vantagens:
– a paróquia ficaria com uma nova igreja na zona paroquial onde tem menos influência: conseguiria assim facilitar o acesso à igreja aos moradores daquela zona da paróquia;
– tornaria mais fácil às pessoas a compreensão de 2 igrejas na mesma paróquia pois a distância seria bem maior que a do K0;
– é uma zona mais sossegada e com mais facilidade de estacionamento;
Tem o grave inconveniente da distância ao Metro, e é provável que muitos dos moradores da zona atual não se disponham a ir à igreja «lá em cima»: necessariamente teríamos de manter uma das Missas de domingo na igreja atual, o que até talvez fosse uma vantagem. Corremos o risco de dividir a comunidade de Telheiras em dois polos (segundo outros, isso seria uma salutar duplicação: depende de como se olhe).

A opção c), isto é, a do terreno atual (K0), caso as duas anteriores não sejam ou possíveis ou aceitáveis, tem os inconvenientes conhecidos: um mau estar numa parte da população de Telheiras. As vantagens, para além da excelente localização, têm a ver com o que já escrevi na carta de 2 de abril.

É compreensível e respeitável que cada paroquiano tenha a sua preferência e tem todo o direito de a manifestar, argumentando como entender, desde que de modo civilizado. No entanto, nalgum momento teremos de optar por uma das três. Confesso, para que não haja dúvidas e como sempre manifestei, que a minha preferência é por uma das soluções que não suscite confrontos. É conveniente por isso que cada um, ciente de não ser o dono absoluto da verdade e das decisões, mantenha uma certa abertura às restantes alternativas, pensando mais no bem de toda a paróquia do que nas suas opiniões pessoais, por muito respeitáveis que sejam. É isto que eu peço a cada paroquiano. Só assim nos podemos manter unidos como comunidade, apesar de discordarmos nalgum aspeto.

B) Sublinhar as mais-valias do projeto para o bairro

Apresento em primeiro lugar as mais-valias do projeto, seja ele construído onde for. A seguir, gostaria de apresentar alguns esclarecimentos e réplicas aos argumentos dos que não são favoráveis à construção no terreno K0, por me parecer que há erros de avaliação que, por respeito à verdade, convém desmistificar.

O projeto da construção do novo equipamento religioso pode trazer benefícios para os habitantes de Telheiras?
Na nossa opinião, sim, vários.

a) Quanto ao centro paroquial e estando ainda em aberto as possibilidades de ampliar as valências consoante as propostas a serem sugeridas, temos o desejo de ter:
Centro de acolhimento de idosos, que permita aos familiares deixarem nas instalações os seus pais ou avós, onde terão atendimento personalizado, atividades que lhes facilitem dar ainda mais sentido às suas vidas e fazê-los perceber como têm ainda um papel a desempenhar na família e na sociedade. Não se trata apenas de «os entreter» com atividades, mas de lhes «devolver» a consciência e a grandeza da sua missão na Igreja e na sociedade.
Gabinete de orientação familiar capaz de dedicar tempo a casais que passem por momentos mais difíceis para que, com uma ajuda amiga, possam ultrapassar essas dificuldades. Desse gabinete, para além da orientadora familiar também formará parte uma psicóloga. Acrescento que, neste momento, temos as pessoas preparadas e dispostas para dar essas ajudas mas ainda não encontrámos nenhum local perto da paróquia para o atendimento, apesar de o procurarmos há mais de 3 meses.
Consulta de planeamento familiar natural para quem o deseje.
Apoio mais consistente de géneros alimentícios: um armazém em condições permitirá não só reforçar a qualidade do que entregamos como poder ir ao encontro de paróquias com mais dificuldades.
Loja solidária que facilite dar roupa a muita gente, brinquedos a crianças, etc.
Centro catequético: apesar de que alguns não o valorizem convenientemente, para nós é uma das prioridades. É para nós vital ter condições que facilitem às crianças um conhecimento sistemático, profundo e vivencial de Cristo. É vital que aprendam a ser amigos de Jesus, a conhecer o tesouro dos seus ensinamentos que os ajudem não só a saber rezar, como a perceber que o ser cristão os deve levar a amar mais os pais, a respeitar os colegas, a defender os mais fracos (por exemplo, opondo-se a qualquer tipo de bullying), a serem bons estudantes, a terem preocupação por quem tem mais dificuldades – doentes e pessoas desfavorecidas –, a saber distinguir o bem do mal, etc., etc. A catequese abre as crianças para uma dimensão transcendente (Deus!) que, por si mesma, também lhes facilita uma abertura ímpar aos outros.
– Dentro da catequese estarão previstas aulas para crianças com dificuldades particulares: deficientes auditivos ou visuais, crianças autistas, com paralisia cerebral, etc.
Sala-biblioteca com obras de teologia divulgativa e de consulta que facilitem espiritual o aprofundamento de quem o deseje.
Outras valências em estudo: ATL para crianças. Até agora foi-nos dito que não parece necessário por já existirem esses centros, mas vários pais têm-nos sugerido que os organizemos. A atenção domiciliária a idosos é outra das possibilidades em estudo.
Capelas mortuárias: sobre este serviço remeto para a minha carta anterior que me parece suficientemente esclarecedora. Não vamos desamparar as pessoas nos momentos de grande dificuldade, solidão e dor.

b) Quanto à nova igreja, no caso em que opção tomada incluísse a sua edificação:
– o mais óbvio é o aumento da capacidade. Apesar de ser uma tamanho médio (500 lugares), permitirá que todas as pessoas possam participar na Eucaristia sentadas e com facilidade para poder ver bem o altar-
– a possibilidade de ter uma ante-câmara sempre aberta, possibilita que qualquer pessoa se possa dirigir à igreja para rezar calmamente durante as diferentes horas do dia.

C) Afirmações pouco corretas ou incorretas da parte de quem se opõe à construção do complexo no terreno K0.

Como é óbvio, qualquer pessoa pode ter como preferência um parque ou jardim em vez de um edifício, seja ele uma igreja ou qualquer outra coisa. É verdade que um jardim numa cidade é uma mais-valia. Se o argumento for esse, a uma preferência de facto pelo jardim nada há a objetar: temos ideias diferentes sobre o que mais pode beneficiar as pessoas, mas temos de nos respeitar. O que não me parece correto é, para defender essa ideia, «forçar» a argumentação.

Transcrevo antes um pequenos parágrafo da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, com data de 24 de janeiro de 2018 e cujo tema, como se sabe, são as «fake news» e que pode servir como apelo para que todos desejemos ser o mais verdadeiros possíveis:

«Esta lógica da desinformação tem êxito, porque, em vez de haver um confronto sadio com outras fontes de informação (que poderia colocar positivamente em discussão os preconceitos e abrir para um diálogo construtivo), corre-se o risco de se tornar atores involuntários na difusão de opiniões tendenciosas e infundadas. O drama da desinformação é o descrédito do outro, a sua representação como inimigo, chegando-se a uma demonização que pode fomentar conflitos. Deste modo, as notícias falsas revelam a presença de atitudes simultaneamente intolerantes e hipersensíveis, cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio. É a isto que leva, em última análise, a falsidade.»

No que diz respeito ao nosso caso, e mesmo admitindo que, com a suspensão do processo, pode não ser especialmente interessante este parágrafo, exponho os motivos pelos que me parece que há argumentos que não são corretos:

a) «Aumento da confusão gerada pelo tráfego à semana». Durante a construção, sem dúvida que assim seria, como sucede com qualquer obra numa cidade isso seria verdade. Depois da construção, caso mantivéssemos os 80 lugares de estacionamento subterrâneo previstos, penso que até tornaria o trânsito mais fluido. Seria possível um acordo com as escolas de modo a que os pais pudessem entrar no parking sem pagar, e levar as crianças até às escolas com saídas de peões junto de cada uma.
b) «Aumento do tráfego ao domingo». Em geral, não parece que fosse problemático, por um lado porque nesses dias há menos gente no bairro e, além disso, uma boa parte das pessoas desloca-se a pé para ir à Missa. Para já não falar dos novos lugares de estacionamento que evitariam estacionamentos «selvagens».
c) «Aumento do tráfego durante os funerais». Seria questão de estabelecer um acordo de modo a que ficassem proibidas as missas exequiais durante as horas de ponta do tráfego.
d) «O edifício retiraria o sol às crianças da escola». Transcrevo a opinião de um arquiteto que me escreveu sobre o tema: «a nova igreja apenas produzirá sombra numa pequena parte do topo do corredor sul do infantário, onde, atualmente, já se encontra um grande pinheiro a fazer sombra. Saliento que o infantário colocou na vedação periférica um tecido/rede opaca e cobertura vegetal para impedir a visão para o exterior e para o interior do seu jardim. Atualmente, no extremo sul do infantário, adjacente às hortas, existe um muro de alvenaria que já impede a visão para o exterior e vice-versa, não sendo, por isso, a visão livre e ampla uma preocupação do infantário»
Mesmo assim, sempre seria possível rebaixar o terreno, rebaixar a igreja, etc.
e) «Pela manhã, os pais não poderiam deixar em segurança as crianças que vão para a EB1 na esquina da R. Hermano Neves tal como o fazem atualmente». Em parte é verdade. Mas seria possível encontrar recursos para que, atravessando o adro da igreja previsto no projeto, pudessem entrar em segurança na EB 1. Para além da solução já referida em a).
f) «Ausência de um desejado parque infantil no quadrado». Já repetimos que não teríamos inconveniente, – antes pelo contrário; é algo que até vemos com agrado -, em colocar um pequeno parque infantil num dos lados do adro.
g) Gostaria ainda de transcrever uma opinião de um arquiteto que me contactou e que contesta os termos com que se apresenta o uso dado atualmente ao terreno: «O novo equipamento proposto destina-se a servir uma população exponencialmente muito mais numerosa e diversificada que o atual terreno, julgando ser uma maior megalomania (como foi referido num texto da comunicação social) manter um terreno para uma fruição de meia dúzia de pessoas do que um complexo para servir uma comunidade inteira. É uma falácia referir-se que o terreno em causa é um espaço verde com uma utilização significativa da comunidade, que é um espaço de confraternização de pais e alunos, como vi na imprensa, pois esse espaço é atualmente quase um terreno baldio que serve uma população muito reduzida, uma escassa meia dúzia de utilizadores dos bancos, do caminho e das hortas urbanas. (…) Convém destacar, também, que Telheiras deve ser o bairro de Lisboa com maior quantidade de hortas urbanas, espaços verdes e de recreio, não me parecendo que manter aquele espaço livre venha acrescentar qualquer valor ao local ou aos seus residentes».
h) «A igreja atual de Nossa Senhora da Porta do Céu seria comprada pelo Colégio vizinho?» A SOCEI, proprietária do Colégio, já respondeu a essa questão negativamente (não tem nem teve nunca qualquer pretensão nesse sentido) e eu próprio já reafirmei que a intenção do Patriarcado é manter a atual igreja de Nossa Senhora da Porta do Céu que tem um valor histórico, sentimental para muitos habitantes de Telheiras, e um valor cultual que é para manter.
i) Como foi insinuado na sessão da Biblioteca Orlando Ribeiro, «a nova igreja pertenceria ao Opus Dei?» Não. A nova igreja seria sempre do Patriarcado de Lisboa. Desde 2004 que a equipa paroquial é composta por sacerdotes do Opus Dei que respondem perante o Sr. Patriarca da orientação pastoral da paróquia.
Espero sinceramente que estes dados e pontos de reflexão possam servir para um debate mais verdadeiro onde, como é normal, cada um continuará a ter as suas opções.

Pe. João Paulo Pimentel
Lisboa, 8 de maio de 2018