Do Pároco

A expressão pertence ao título de uma obra escrita pelos anos 90.

O Autor era um simpático médico, que tive o gosto de conhecer, a quem lhe tinha sido diagnosticada uma doença cancerosa. Era perfeitamente ciente da gravidade da doença e dos incómodos gerados pelos tratamentos. Decidiu então redigir essa obra, muito bem escrita, em que a tese fundamental era a que o título refletia com exatidão. Dentro da sua situação, o desafio era manter a vida do modo mais normal possível, sem lamentações e sem se deixar abater pela doença. O livro reflete a sua heroica atitude. Acabou por falecer, vítima da doença, mas deixou o exemplo de quem não se deixa amedrontar por uma grave contradição.

O título veio-me à cabeça para a situação em que vivemos. O coronavirus é um perigo que impele a tomar a sério as medidas de precaução para evitar os contágios, mas todos temos o desafio de conquistar uma certa normalidade: com distanciamento, com máscaras, dispostos a mudar programas se houver um perigo adicional, mas sem perdermos o desejo de não renunciar ao que não é necessário renunciar.
Em concreto, todos somos convidados a sacudir das nossas vidas a má tendência a sentirmo-nos eximidos de procurar um bem maior. Por exemplo, é urgente insistir no regresso à Missas dominicais presenciais, excetuando as pessoas de risco.

Transcrevo umas palavras da Congregação para o Culto divino, da sua recente Carta, «Voltemos com alegria à Eucaristia», de 15 de agosto passado, cuja leitura integral conselho:

Por muito que os meios de comunicação desempenhem um prestimoso serviço em prol dos doentes e de quantos estão impedidos de se deslocar à Igreja, e prestaram um grande serviço na transmissão da Santa Missa no tempo em que não era possível celebrar comunitariamente, nenhuma transmissão se pode equiparar à participação pessoal ou a pode substituir. Aliás, estas transmissões, por si sós, correm o risco de nos afastarem de um encontro pessoal e íntimo com o Deus incarnado que se entregou a nós não de modo virtual, mas realmente, dizendo: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele» (Jo 6, 56). Este contacto físico com o Senhor é vital, indispensável, insubstituível. Logo que estejam identificadas e adotadas as medidas concretamente disponíveis para reduzir ao mínimo o contágio do vírus, é necessário que todos retomem o seu lugar na assembleia dos irmãos, redescubram a insubstituível preciosidade e beleza da celebração, chamem e atraiam com o contágio do entusiasmo os irmãos e irmãs desanimados, temerosos, ausentes ou distraídos há demasiado tempo.

O desafio é para todos e cada um. Ajudemo-nos mutuamente com a oração e com o exemplo.

Pe. João Paulo Pimentel