A Palavra abreviou-Se

Quando falamos a crianças, todos nós sabemos como é importante assegurar que entendem o que lhes estamos a dizer, que conhecem bem as palavras que, sendo familiares para nós, para elas são desconhecidas. Por isso, no diálogo com elas, é necessário parar várias vezes e assegurar que entenderam a última palavra por nós proferida e, em caso negativo, traduzi-la por palavras mais simples. É preciso condescender com as suas capacidades se desejamos comunicar com elas. Deus sempre quis comunicar com o homem, sempre quis dar-Se a conhecer, fazer-Se entender. E, para tal, condescendeu com as nossas capacidades, adaptou-Se à nossa linguagem e assim nos falou.

As palavras e imagens por Ele escolhidas, sabendo que, com mais ou menos custo, as poderíamos chegar a entender são muito valiosas. Através da Escritura, Deus continua a falar com o seu povo.
O cume dessa comunicação de Deus deu-se em Cristo, a Palavra feita Carne, mistério que celebraremos novamente no Natal. Com esta perspetiva vale a pena reler um parágrafo luminoso da Exortação Apostólica Verbum Domini (nº 12): «Na sua tradução grega do Antigo Testamento, os Padres da Igreja encontravam uma frase do profeta Isaías – que o próprio São Paulo cita – para mostrar como os caminhos novos de Deus estivessem já preanunciados no Antigo Testamento. Eis a frase: “O Senhor compendiou a sua Palavra, abreviou-a” (Is 10, 23; Rm 9, 28). (…) O próprio Filho é a Palavra, é o Logos: a Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós.» Para realmente conhecermos Deus é essencial determos o nosso olhar na Humanidade Santíssima de Jesus e recordar que tudo o que
Jesus faz ou diz revela-nos o Pai (Cfr. Catecismo da Igreja Católica, n.º 516). Com o seu Nascimento, a sua vida de infância em Nazaré, o seu trabalho de carpinteiro, Jesus dá-nos muitas lições para podermos incorporar na nossa vida, mas mais importante ainda é aprender com esses momentos Quem é Deus que Se revela em Jesus: um Deus que fala com mansidão, que não Se impõe mas quer conquistar o coração do homem com gestos de amor, um Deus que pode nascer sem nada porque o mundo é d’Ele, um Deus que até deixa que a sua criatura «mande» n’Ele… À medida que se aproxima o Natal, renovemos o desejo de aproximar-nos de Deus através da Sua Palavra Encarnada, relendo o Novo testamento com renovado interesse e amor. É um dos meios de agradecermos a sua condescendência para connosco.
Pe. João Paulo Pimentel