Coerência eucarística

«Viver a Liturgia como lugar de encontro» é a proposta do Patriarcado de Lisboa para o ano que agora iniciamos.

No n.º 47 da Constituição Sinodal, lemos:

«A liturgia é lugar de encontro com Deus e também da comunidade cristã enquanto Povo de Deus que celebra. Além da beleza dos espaços e dos ritos, da música e do canto, a celebração da fé é chamada a educar para a interioridade, para a comunhão e para o silêncio, criando momentos que disponham à escuta de Deus.»

Teremos ocasião de meditar sobre os diversos aspetos da liturgia. Neste mês, gostaria de vos convidar a enquadrar a liturgia na nossa vida evocando, para isso, umas palavras da Constituição sobre a Sagrada Liturgia, o primeiro documento a ser aprovado no Concílio Vaticano II: «a Liturgia é simultaneamente o cume para o qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde dimana toda a sua energia.»

Aplicando as palavras mais em concreto à Eucaristia, elas significam que devemos encaminharmos para o encontro com Cristo na Eucaristia e de lá sair renovados para viver de acordo com a nossa identidade cristã. Por outras palavras: o momento «alto» da nossa união ao Senhor deve ser a celebração Eucarística. Se assim for, é normal que o desejo de um verdadeiro encontro com Cristo na Eucaristia ilumine o nosso coração com o fim de eliminar, com a sua graça, o que nos tornaria inaptos para O receber frutuosamente. S. Paulo é claro: «todo aquele que comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor» (1 Cor 11, 27). A Igreja nunca deixou de fazer eco a este ensinamento.

Ao mesmo tempo, como a Eucaristia é também fonte, são expectáveis consequências na atuação do cristão que recebe o Senhor. Assim como nos examinamos antes de comungar para tentar perceber se houve algo na nossa conduta que desagradou seriamente o Senhor, é igualmente vital que nos perguntemos em que medida a união com Cristo na eucaristia condiciona as nossas posteriores opções. A Igreja fala de «coerência eucarística». Se recebemos Cristo em nós, a sua presença há-de transparecer no modo como nos relacionamos com os outros, no modo como trabalhamos, no modo como falamos, no desejo que temos de que outros conheçam Cristo, etc.

Para que a Eucaristia seja verdadeiro lugar de encontro com Deus e com os irmãos é essencial que não fique reduzida a um mero rito. Ela deve orientar toda a nossa vida.

Lisboa, 21 de agosto de 2018

Pe. João Paulo Pimentel