Do Pároco

A Ressurreição de Jesus é o acontecimento mais transcendente que teve lugar na história humana. Porém, tal como explica Bento XVI:

«O próprio Senhor disse que “o Reino dos Céus”, neste mundo, é como um grão de mostarda, a mais pequenina de todas as sementes; mas traz em si as potencialidades infinitas de Deus. A ressurreição de Jesus, do ponto de vista da história do mundo, é pouco vistosa, é a semente mais pequenina da história.

Esta inversão das proporções faz parte dos mistérios de Deus. No fim de contas, aquilo que é grande, poderoso, é a realidade pequenina. E a semente pequenina é a realidade verdadeiramente grande. Deste modo, a Ressurreição entrou no mundo somente através de algumas aparições misteriosas aos escolhidos. E, no entanto, foi o início verdadeiramente novo: aquilo de que, secretamente, tudo estava à espera.»

Sendo esta a «lógica» de Deus, podemos perguntar se nós, que andamos com tanta frequência atrás do que brilha, do que faz barulho, do que é famoso ou humanamente relevante, se nós, insisto, não corremos o risco de estar continuamente a «perder» o mais importante.

Detenhamos o nosso olhar nas pessoas – a maioria – que não é nem nunca será notícia, que sempre trabalharam toda a vida, que cuidam da sua família com tudo o que isso supõe, que têm uma vida discreta, com alegrias simples. Teremos pensado a quantas pessoas desconhecidas deveríamos estar agradecidos? Quem nos fez as estradas, as casas; quem trabalha todo o ano para termos depois nas grandes superfícies os alimentos; quem conduz os autocarros ou as carruagens do metro; quem assegura a limpeza das ruas… Quantos destes heróis diários, muitos deles cristãos, não farão essas tarefas com autêntico brio e espírito de serviço, procurando o bem comum, o bem de tantos que nunca lhes agradecerão?

E quantos irmãos nossos na fé, de todas as idades e condições, não contribuirão de forma decisiva com as suas orações para o bem da Igreja? Neste ano em que na nossa diocese somos convidados a olhar para as periferias, não seria bom que detivéssemos mais o nosso olhar nas pessoas que atravessam as nossas vidas, que trabalham para nós, que rezam por nós? Posso garantir que a maioria são muito mais interessantes do que aqueles e aquelas das «capas de revistas».

Uma maior atenção e agradecimento ao cristão «comum» torna-nos muito mais aptos para «descobrir» o Ressuscitado. Ele nunca apareceria em eventos faustuosos ou bombásticos. Simplesmente, não é o seu estilo.

Pe. João Paulo Pimentel