Do Pároco

Devo confessar que hesitei em retomar, já neste mês, o Boletim paroquial. As incertezas sobre como se vai desenrolar o nosso dia-a-dia são tão relevantes que pensei em adiar até pisarmos um terreno mais firme. Mas depois, sorri. Desde quando é que o amanhã é «terreno firme»? São tão dilacerantes como verdadeiras as palavras de S. Agostinho: «nunca foi prometido a ninguém o dia de amanhã» (sermão 87). Aliás, na nossa linguagem coloquial, usamos com frequência – talvez sem captarmos até ao fim o seu significado profundo – o «até amanhã, se Deus quiser».

Na verdade, a crise desta pandemia do coronavírus trouxe às nossas vidas uma maior incerteza. Ou talvez devêssemos escrever que devolveu às nossas vidas os condicionalismos da realidade que, por vezes, esquecemos: não sabemos ao certo se amanhã poderemos sair de casa, ir às compras normalmente, encontrar-nos com estas pessoas; aliás, não sabemos quanto tempo viveremos. Mas, sobretudo, precisamos de confiar mais na Providência divina, fazendo o que está da nossa parte e, com a mesma intensidade, confiando as coisas ao Senhor que sabe muito mais do que nós.

Essas considerações não nos impedem de elaborar planos para o futuro, organizar a vida e o trabalho, ter metas. Tudo isso é legítimo e Deus conta com as nossas iniciativas. Desde que não as absolutizemos ou as idolatremos, como se o que planeássemos fosse intocável ou até sagrado. Não o é.

Quase sem nos darmos conta, a crise devolveu-nos esse sadio realismo. Nestas alturas, ninguém se surpreende quando surgem mudanças de planos como o cancelamento de eventos ou viagens. Nenhum de nós hesita em cancelar por própria decisão o que quer que seja se prevê perigos para a saúde pública. Todos passámos, pois, a gerir estas mudanças com mais serenidade.

Com este enquadramento, decidi reiniciar o Boletim. Com os dados que temos até agora, podemos ir pensando nas catequeses, no Crisma (já marcado para dia 26), nos grupos de jovens, nas reuniões de casais, nas atividades da Irmandade, etc. Claro: faremos tudo isso…se Deus quiser.

Pe. João Paulo Pimentel